Sonhar o chão, saudar a terra
Cartografia onucleo 17/08/2020
Sonhar o chão.
Tocar o chão.
Pisar o chão
Saudar a terra.
Colhi o sangue do meu núcleo e plantei na terra hoje
Fluxo-semente sorvido pelas entranhas da terra.
Devolvido e devorado.
Tem gente que não sabe pisar suave no chão.
Fazem a pele da terra rasgar,
Criam feridas na terra.
Tem gente que tira do chão seus ossos, seus minérios e
criam fumaça xawara.
Embaixo do chão que estou passa um rio, rio carioca,
da taba carioca, casa dos índios curiós, índios tupis.
Chegou em mim palavra soprada que a Ilha de Mocanguê
em Niterói é um cemitério indígena. E eu sonhei com o lugar. Sonhei que ali
tinha uma canoa invertida, canoa tupinambá, canoa cumprida que marcava o lugar
do cemitério. Mocanguê: alí uma ossada.
O Rio de Janeiro foi erguido sobre os corpos dos povos
originários desse chão...
É possível restaurar, reparar sem tocar nas memórias
do lugar?
O tempo de hoje insiste nos tempos de agora.
Retirar o asfalto da pele para acender a floresta
interior.
Acordar as estrelas do chão.
Escavar o chão. Reparar, restaurar, replantar,
recriar, reflorestar, retornar.
Estar-com você é sonhar o chão.
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