Prólogos para pisar o chão

Porque dançar? Como dançar em um mundo em colapso?

Porque e como dançar quando o colapso do mundo parece nos dizer que é preciso inventar outros modos de vida, outras formas de estar junto? Que é preciso reaprender (com as comunidades matriarcais? Com os povos originários? Com culturas não coloniais? a estar junto. Seria a dança capaz de agenciar novos levantes e fomentar uma “outra” política do encontro?

 Interessa investigar se e como a dança pode produzir ação política capaz transformar aquilo que reconhecemos como o fracasso da Política “profissional” nas relações locais e globais. Experimentar se e como a dança pode redimir as violências históricas e devolver a voz para  nossos ancestrais silenciados, escravizados, torturados e massacrados. Se e como pode a dança diferenciar-se e desalienar-se de sua história colonial e patriarcal, reativando histórias não hegemônicas e não vencedoras, como é o caso da contada pelos corpos das mulheres e pelos povos originários. 

Como grupo de pesquisa, iniciamos em 2020, durante a pandemia de Covid-19 o projeto Posaûsub ibi: sonhar o chão que se pisa e a ação extensionista "onucleo conVida: sonhar o chão" que serão investigações somato-cartográficas a partir de uma série de conversas com mulheres oriundas de diferentes áreas de conhecimento abertas a toda comunidade. 

O termo sonhar o chão é proposto não como uma imagem meramente poética, ou como uma arqueologia do passado, mas como um agenciamento cosmogônico, político e filosófico. O chão não é um espaço topológico neutro sobre o qual se dança livremente, é um território de memória com marcas e feridas coloniais. Sonhar o chão é imaginação de porvir, possibilidade de encontros que transformam, intervenção coletiva no futuro. Sonhar o chão, por fim, é possibilidade de dançar novos mundos.

 

 Lidia Larangeira