Segunda-feira, 4 de Maio de 2015 (Boteco - Fórum de Ciência e Cultura)

Antecipei a hora, afobada, tentando não me atrasar para o encontro do Núcleo no Fórum de Ciência e Cultura olhei sem ver o relógio, 13h05min ele marcava e eu achava que já estava atrasada. Pedalei rápido, respiração sem tempo, passei por um relógio de rua e percebi que estava adiantada. Calma, respira, percebe os ombros crispados. Os pensamentos ainda acelerados, Lídia chegou. Falamos das nossas tarefas do projeto, JIC, filha, horário das salas pro tcc, faculdade, Ruth, Thaís com problemas para chegar, festfic, balde. - Balde pra nossa prática de dança, não para faxinar - esclareci para o pessoal da limpeza. Mergulha o pano no balde, começa a silenciar, torce o pano, solta o ar, quatro apoios, conecta mão-pé-bacia-chão-lídia-parede-ombro-pescoço, vai, lento, o ar de dentro de mim começa a soprar quente, o pensamento só empurra o chão. Um lado e outro, ganhando intimidade com o piso, tem lado com prego, tem lado com cupim, precisa de vassoura antes do pano. Terminamos a limpeza do chão e da escuta, fomos pro espaço mexer, articular, alongar, e o que mais precisássemos, fui no músculo, no exercício de atenção específica, Lídia também experimentou ir por aí, desse jeito de mover ficamos cada uma na sua. Comecei a pensar no rosto, em ativar o olhar, passear a língua na boca, ver, reparar, atenção solta, passeando pelo espaço, vi a Lídia fazendo movimentos do yoga, reparei na coluna dela, falei sobre a coluna dela. Conversamos sobre padrões de movimento, sobre compensações, exercícios interessantes para a Lídia fazer sozinha, avaliação. Lídia pausa, e me pergunta se através daquela prática eu consigo acessar um estado de escuta e disponibilidade para o processo criativo ali, no núcleo. Percebo que esse tipo de prática instaura um lugar muito individual, e que talvez o caminho seria encontrar procedimentos que dilate uma atenção para o espaço defora-dedentro. Procuramos, dentro das necessidades que tivemos nas últimas práticas, quais procedimentos levaram ou podiam nos levar a esse estado disponível, estado de presença, com a escuta porosa; pontuamos: Limpeza do chão, chegada no chão, respiração, ativação do olhar, jogos - dinâmicas de escuta. Para o próximo encontro iríamos experimentar transitar por esses procedimentos, de acordo com nossa necessidade e encontro com cada coisa. Compartilhei onde eu estava no meu TCC. Thaís Chegou.

Quarta-Feira, 6 de Maio de 2015 (Fundão - Sala do Piano)

Balde, água, pano torcido. Uma do lado da outra: Thaís, eu e Lídia. Limpar o chão juntas. Primeiro corredor: Espero pela Thaís, espero pela Lídia, tenho vontade de ir rápido, mas o tempo está arrastado, esfregando lentamente. Observo o tempo da Thaís, observo o tempo da Lídia, qual o nosso tempo? Penso nisso enquanto faço, penso no pé, penso no trapézio, penso no femo dentro do acetábulo, penso demais. Segundo corredor: Respiro. Percebo minha vontade de empurrar o pano com mais velocidade, tempo do grupo! tempo do grupo! Acalmo e aceito, espero. Um tempo coletivo... Ir junto. Terceiro corredor e quarto corredor. Rosto. Olho. Respiração russa. Rolamentos, rolamentos, rolamentos, espiral. Sair do chão, entrar no chão. Pensamento e movimento começam a integrar-se, entrar e sair do chão espiralando, repetir. Lídia amassando as vísceras fazendo som oco. Thaís espiralando, pausando, mexendo os membros. Thaís no corredor comigo. Choveu. Fomos pra janela. Thaís e Lídia enjoadas por causa do movimento. Despertador: 16h. Hora de ir. 

(Pós encontro, dias depois, reverberações: Incomodada com o último encontro. Percebi que não estou conseguindo deixar vir o desejo, o movimento, sem abertura para o encontro quando vou para o espaço (da tábua corrida). Indo por um caminho que talvez não seja bem por aí. Com muitas antecipações. Fiquei mexida com a Pista 2 (O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo - Livro: Pistas do método da cartografia), precisando experimentar mais uma atenção flutuante, concentrada e aberta? Rastreio, toque, pouso e reconhecimento atento: experimentar, corporificar. Como o grupo acessa essa atenção, desperta coletivamente?).




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