da experiência cotidiana tenho reconhecido que só posso ser eu realmente enquanto tu és tu. muitas vezes não consigo distinguir se sou eu que estou a recuar de ser ou se és tu que não te permites ser. parece-me difícil ir encontrando a justeza entre a ânsia de inscrever um contorno de mim e a confiança em determinado estado de ser que me permite a afinação comigo própria, mesmo que eu não possa nomear o que me move. quando me oiço dizer "eu" talvez possa já começar a considerar o repeito pelo não eu, pelo tu que lês isto agora, pela liberdade de ser, pela urgência de ser-com. no entanto, não posso deixar de reforçar as lacunas que esta consideração do corpo-acontecimento ainda tem em mim e o quanto me vejo escorregar pelos extremos do desfoque, a vaidade, a insegurança de ser ou não acolhida pelo tu, a fragilidade de acreditar num nós que desdobra o eu. enquanto partilho experiências da dança falo uitas vezes de mim na terceira pessoa ou oscilo entre eu e nós. parece-me que esta estranheza nasce no acompanhar do gesto, flutuando em formas diversas de mim que não conheço mas desconfio que estão ali.
Sofia Neuparth

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