uma dança para as coisas

Frestas de um espaço-corpo-dança

vontade de fechar os olhos para escrever. Fechei o olho quando estava no chão e fui vista por cadeira, por espelho, pelo elevador e a cortiça que finge de porta também me olhou. Nas frestas e fechaduras eu vi os entres e as cores que ele carrega. Parar. Já foi a joia. Eu perco e acho, perco mais que acho. A joia é o estado de dança. A joia veio em cor amarela metamorfoseando em laranja. A menina do espalho, o espelho olhava. Brinquei de enfrentar o elevador e a escada, fui cadeira e parede. Cheguei: estado. Chão desenhado. Eu coisa, eu vista pelo espaço. Movimento vem. Estar, que bom estar. Parava e ia pro chão para achar uma dança. Parava muito, necessário. E decidida disse em silêncio e depois repeti num volume de voz para me ouvirem as coisas: - Vou fazer uma dança para vocês. Uma dança para você, cadeira... uma dança para você, vidro... uma dança para vocês, escada e elevador... Aqui espalho, para você, dança!
E aí cai no buraco, pensamento desligado do acontecimento por um instante, basta uma idinha pro futuro e... Buraco! E é gostoso sair do buraco, mas só dá pra sentir o gosto se tiver sorte de cair. Simbora!

(Cantarolei durante a experiência, música que saia do movimento, e então, chegou um acordeon! Encontro... tá lá em cima tocando bonito, perfurando parede, chegando pela danada da escada e pelo buraco do elevador, veja aí, esses dois...)


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Uma dança para a janela...

Eu sozinha nesse cômodo, nesse espaço deixado de lado, cheio de entres surgidos do abandono, viram escapes para o olho, janelas para cores andarilhas, cores-flash, borrões de passagem de gente. Entendi o elevador daqui, me sinto meio elevador. É fácil dispersar. Meus objetivos estão sendo estar...  e mais alguma coisa... "Permanências e destruições": chão de cimento, janela da vista de privilégio. O corpo quase não quer dançar, veio melodia de novo na voz. Ficar só nessa janela, é o desejo até agora entendido. Como fazer uma dança nessa janela? Fiz uma dança para a janela, tentei, não achei a dança pra janela. De que dança eu estou falando? Que dança eu estou esperando encontrar? É como a vista dessa janela, eu olho de longe o lugar, mas como faz para ir para lá? COMO, se repete. Vontade de justificar na musculatura dolorida a falta de tônus para habitar. A janela de fora cheia de matagal, queria que a dança acontecesse assim, de um lugar imprevisível brotasse... os lugares comuns tão insossos. Permanecer e destruir? O que que tem pra mim aqui hoje? Me dá vontade de fazer dança para as coisas, mais do que para olho de gente. Uma dança para a testa, para o cotovelo, pras escápulas e pro cóccix. Parece que as coisas e partes enxergam, percebem, me olham. E dessa relação que me parece tão afetuosa eu tenho vontade de dar dançar, ocupar esse espaço com dança. Aquela sala da janela, como fazer uma dança ali? Um dança para a janela...


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Olho para a janela e sou devorada pelo olho da janela, a janela toda olha e sou desafiada a olhar com o corpo todo para a janela também. Para estar com a parede é preciso olhar duplo, olhar e ser olhada pela parede. Primeiro eu encontro, um encontro invisível, como o encontro com o extintor de incêndio, para dançar para o extintor eu precisava fazer vento, ranhar o pé no chão, essas coisas de necessidade, vem pelo encontro com as coisas. A thaís-coisa me exigia, exigia amolecer o olho frontal e estar atento com os olhos das costas, é que ela tinha olho de gente, não era que nem a janela, com um olho só no corpo todo. Depois é que vem a dança, depois e junto, depois e junto do encontro, só me encontro dança nesse espaço quando encontro com a janela, com as portas e as paredes com cocô de morcego. Rabisco a bruna e viro rastro, água, vento, costas, viro um pedaço a mais de mancha da parede. Dançar assim é bom, dançar assim me faz, me abre, me dá relevo, me pinga, me dá potência, desejo, desejos...


(Bruna)

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