Oficina cartografia do encontro por Laura Vainer

UM - 07/07/2015

 

aí se vê,

mão na cintura cigana

 

Um olhar-bacia que recebe o espaço entornado

 

Tesão  

 

(é porque a gente pensa na coisa que a coisa vem? porque o que aparece tem a cor do que já 

se é . . . ?)

.

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As linhas na Raquel


Deslizo . Contemplo . Admiro .

 

E o outro na gente é sempre uma surpresa - como ainda ser surpresa?, eu me pergunto.

 

[E as contaminações] 

 

[E os mistérios]

 

Mas é. 

 

e rio criança de sentir isso

.

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Os buracos Os buracos Os buracos

 

Os líquidos

 

Os tecidos úmidos

 

(o que é lavar a mão depois do sexo?)

.

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Cantos

 

Costas nos cantos

 

E nos cantos do ar

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Aí se vê,

 

Tranças:

 

 

                                                                                o b u r a c o d a m u l h e r é m u i t o f u n d o

                                                                                                               (e vaza)

 

 

 

O meu olhar não é nítido como um girassol.

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[não estuprar a coisa . dissecar não é isso]

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Os buracos do espaço.

 

As pessoas através dos buracos.

 

vãos - janelas - janelinhas

 

                                                                                 provocar escorrimentos e babas é possível

                                                                                      prazer concêntrico q'ué excêntrico

 

                                                                                             escutar com os buracos todos

 

 

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DOIS - 08/07/2015

 

A mim interessa demorar: 

 

Um quadrado é o mundo:

 

O buraco reage de modo diferente quando cutucado ou quando assoprado -- o dedo recebe  a 

aspereza do tecido que é a parede e acata. 

 

Sabe a delícia da diferença?

Como a pele mansa quando roça a casca grossa da árvore. 

 

Os buracos do corpo lacrimejam

 

.

 

É preciso decidir ir, às vezes.

 

É preciso decidir por uma nova modulação para colorir o mapa.

 

.

 

O teto desce e se encosta no meu lado de dentro

 

                                                                          (dentro?)

 

Sinto o teto no meu avesso

 

                                   (avesso?)

 

                                                                                      

        

                                                                                         sabe quando se olha por uma fresta?

                                                                                                          o buraco não se vê,

o que aparece são os pontos, linhas e planos que são disponibilizados através-do-buraco 

 

:

 

Quando desenho faço traços e pontos que abrem vãos no papel em branco, fazem surgir 

espaços,                                                                                                                                                                 

frestas.

 

E o meu tesão é riscar estes espaços com novos traços fazendo aparecer novas frestas

Tracejar o vazio

                e de novo

                   e de novo

                       e de novo

 

Quando a linha aparece, ela preenche

e ela esvazia

 

Ela ocupa o papel

e denuncia o vão

 

E é esse paradoxo que permite a transa das coisas

 

Se ocupar o papel vira a regra, a distância entre as linhas ou pontos vai diminuindo - 

diminuindo - diminuindo, 

e os vãos desaparecendo - cendo - endo . . . . . . . . . . . . . . . . ...............

 

até

queac

oisasesuf

oquenum

plano 

 

semespaçoparaocooperdasmoléculas

 

Por isso,

 

.

 

É preciso decidir por uma nova modulação para colorir o mapa.

 

É preciso, às vezes, surpreender o espaço e ir.

 

Riscar outro canto. 

 

Caçar buracos

 

Criar vacúolos

 

 

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É sério que escorro.

 

As coisas passam a nos lamber quando começamos a lamber as coisas.

 

E agora é isso: transo espaços

 

.

 

Os quartos vazios têm tanta fome quanto as barrigas

E devoram.

 

 

 

É preciso, às vezes, ir 

Para não desparecer no estômago da coisa

 

(caminhar tonifica o encontro)

 

 

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TRÊS - 08/07/2015

 

As I walk this line, 

I am bound by the other side

and it's for my heart that I'll live, 

cause you'll never die.

 

Well if you want to know me, I'm a war

Come paint 

 

(WARPAINT, 2010 )

--

                                          

 

                                    ( B . I . L . L . I . E . H . O . L . I . D . A . Y . )

 

 

 

Parece que quando um dia abre muitos vãos na carne e a deixa no osso e vulnerável, no dia 

seguinte o corpo se organiza de modo a preencher estes espaços,

 

Se ocupa de traçar nos buracos, linhas

querendo deixá-los repletinhos, 

querendo habitá-los - que é o mais próximo que chegamos de encostar nos furos.

 

Aí se vê, 

 

Hoje as coisas me vinham e os buracos, já alguma coisa cheios, as recebiam nessa qualidade de 

piscina se enchendo, 

 

uma mangueira ali, jorrando água fresca no descampado do furo. 

 

E por isso 

                   

                                             pude ser som, traço nítido, coisa que preenche

 

 

Muda a textura do vôo.

 

--

 

Um grande quadrado com um espelho no teto:

 

Olhar para o alto organiza a dança de uma forma interessante. 

 

Ver o corpo refletido nesta perspectiva atualiza a movimentação e torna possível uns 

tracejados no espaço que, caso a cabeça estivesse assumindo sua verticalidade, não 

seriam possíveis.

 

.

 

Um dado: o sexo e as coxofemorais são focos energéticos (já sabia). 

Mas essa ordem do corpo que se mexe tendo a cabeça tombada para trás e esta sala que 

permitia que se visse o que estava acontecendo desta posição, inventam qualidades 

para a dança.                                                                                            [quais? Lamber mais...]

 

 

.

 

Assim também o sapateado que apareceu ainda no início da expedição.

 

Veio disto:   

 

B . I . L . L . I . E . H . O . L . I . D . A . Y .

 

Parte de uma música. 

 

Tinha tempo que não a ouvia... 

 

.

 

Aí se vê,

 

Escutei-a ontem e percebi que o corpo dela abriga as questões que o espaço que 

estamos explorando desempoeirou para mim: 

 

vãos - frestas - buracos - linhas - pontos - planos - texturas . . . 

Esse movimento que cria a trama e a transa.

 

Enfio nos silêncios da música a carne. 

E ela se enfia nos meus furos pela sua materialidade.

 

O que aparece de dança vem de balbuciar o refrão 

 

primeiro com a boca 

depois, com os pés.

 

sapateei       

 

 

  (Link para a música -https://www.youtube.com/watch?v=EWcTp1r_Nls)

 

 

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QUATRO - 10/07/2015

 

 

Dois andares de expressão: 

 

Num a saliva escorre pelo chão e os centros vibram e se aterram onde quer que se pare.

 

No outro, figuras apregoadas puxam o pensamento para trás, para onde não. 

Para onde fim. Para onde o que é pulso se escamoteia em exibição.

 

Dois andares movediços de expressão, porque se misturam e aparecem um de dentro do 

outro.

 

A música Billie Holiday é o pino em que me agarro para estar perto de mim. 

 

B . I . L . L . I . E . H . O . L . I . D . A . Y .

 

Repito. Repito. Repito.

 

E o copo, cheio de dança 

Procura piso para vazar

:

 

Uma sala enorme. Teto alto. Coxias grossas e pretas. Chão de taco.

Cantos. Arquibancadas. Buracos. Passagens. Escuros. Frestas.

 

Dois andares acima uma presença que é o disparador das intensidades-não, motivador das 

intensidades-fim. E a dança vulnerável a tudo isso, 

quer ser vista? 

Não, não quer. Quer pingar. 

Olhar as coisas, não seduzir pessoas. Não mais. 

É ineficiente tanto para a sedução quanto para a dança. 

Não tem sustança.

 

B . I . L . L . I . E . H . O . L . I . D . A . Y .

 

Vamos assim, pelos silêncios e caracteres que a melodia sopra

Vamos assim pelas solas dos pés fumegantes 

Pela vibração dos dentros

 

Os pés namoram o chão 

Acarinham Mordem Suspiram Pontilham Suspendem Lambem Pressionam . . . . . . . . . . . . . . . . . 

E a gente vai se esvaindo para os cantos velados do espaço para ter mais privacidade na transa

 

Aqui, o andar apregoado de figuras soa baixiiiinho

(ou soa tão alto que é possível dançar por ele sem a preocupação de está-lo agradando?)

 

Aqui, é palpável a circulação das intesidades.

O que é, é. 

 

E é em movimento. 

É no jogo, 

 

Transando luz e sombra sem pretensão de aparecer algodão doce para ninguém

 

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