caule- coluna, ventre-raiz, palavra´semente

Minha raiz.

Caule-coluna.

Cabeça descansada na terra.

Apaga-se a consciência do eu pensante.

Cheiro de chão.

Chego à minha terra.

Terra escura.

Terra úmida, cercada de igarapés.

Nasci no meio da mata em frente ao mar.

Reentrâncias do mar no s veios de rio.

Coluna descansa.

O olho interior se abre.

Abre um espaço infinito no  crânio.

Descasca camadas e o núcleo chega ao céu.

Encontro de energias distantes. Cósmico.

Útero que ocupa grande parte do centro.

Ancora.

Dá coragem.

Jorro incessante.

Fonte.

Nascente que nunca se finda.

Célula primeva.

Memória das mulheres que vieram antes e que virão depois.

Raízes. Árvores primevas. Ancestrais.

Pegas no laço, escravizadas, colonizadas pelo sangue de cristo.

Sou mais que o diploma na barriga.

Trago no ventre a memória de suas forças, sue sangue, seus fluxos e contenções, suas vidas.

Sinto ali naquele momento que carrego a memória dessas águas, berço de peixe em meu ventre e ele vaza.

Vaza um líquido vermelho, volumoso, quente, derramado nesse chão.

Queria lavar com esse sangue derramado as lágrimas vermelhas de tantos parentes dessa terra vermelha chamada Brasil.

Quero partilhar esse mundo outro cheio de vida. Sonhar esse chão.

(Cartografia do encontro com Patrícia Caetano – onucleo convida - 29/06/2020)