21 de setembro - rota labiríntica

Dividimo-nos e partimos para lá e para cá. Tão fora do habito passar por um lugar e se demorar nos detalhes das paredes, da sarjeta, dos passantes… é uma busca que encontra e só sabe buscar. Fazíamos parte da paisagem. Não intervíamos nela.
Pelo espaço labiríntico paredes nos cercavam, com uma estrutura semelhante ao de uma prisão. Me senti aprisionada. A energia infantil e juvenil, no entanto, floreava o percurso naquele espaço do educar. Meu coração pulsava a medida que me chegavam recordações, que eu me reconhecia naquele espaço, que eu pensava no sentido real que um lugar semelhante aquele teve nos meus dias.
Escolas me fazem mergulhar em uma piscina de esperança. Me encho de vida e de respostas possíveis para a tal pergunta “será que o que eu faço serve pra alguma coisa?”. A pergunta que pode não ser exatamente assim, mas que surge todos os dias para que eu firme o meu pisar.
O que aprisiona em um ambiente tão florido?
Para que servem as grades?
Como se faz a educação em um lugar que luta todo dia para não acabar?
E foram algumas histórias de resistência que ouvimos, bem como outras que já ouvi ao longo da vida. Aquela escola labiríntica sobrevive e dentro dela, plantam-se sementes. Cercado daquelas grades, sobrevive um bonito jardim no qual tivemos o prazer de estar em visita.
Saimos e pegamos a rua subindo. Demos de cara com uma igreja. As crianças e os adolescentes em frente a escola rindo alto, conversando, combinando trabalhos, comendo, nos olhavam querendo saber quem éramos. O mesmo fenômeno aconteceu do lado de dentro. Curiosidade de saber quem é que visita aquele quase lar deles.
Demos a volta por trás da escola e a vimos de cima. Preenchia um enorme espaço naquela subida e sem ela alí, literalmente, haveria um buraco. Passamos pelos meninos sem uniforme e atrás deles os pixes que também resistiam, marcando assinaturas e saudade de quem já se foi, de quem talvez nem teve a oportunidade de concluir sua passagem naquela escola. Lembrei da diretora falando, com os olhos tristes, das crianças que “perderam” para o tráfico.
Imersa naquela piscina de esperança, abri os olhos e localizei alguns rostos. Foi um misto de alegria e tristeza esse trajeto, uma vontade ainda maior de dialogar, de estar presente ali naquele lugar, ainda sem saber bem como. Escola é lugar pra semente crescer.
Seguimos o caminho contornando a escola e eu senti que já havia criado um mapa afetivo com aquele lugar, com a escola labiríntica, com a igreja clara no fim da rua que refletia a luz do sol sem dó, com as crianças e adolescentes de camisa azul, com os meninos da rua que, atrapalhados, desejavam boa tarde, com o pixes, com as tintas descascando, com as casas antigas, com as flores e os altares, com os espaços vazios e o beco dos gatos, a descida do outro lado, a senhora do sacolé.
Sobe
e
desce
De tudo que esse lugar me alimentou aquele dia, as minhas memórias sobre o que vi e vivi em minhas ladeiras e no meu labirinto particular me trouxeram para aquele lugar de uma forma íntegra, eu me senti parte.


Thaina Farias

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