Sobre segunda, todas as segundas no morro.

Segunda-feira é dia de encontro. me Alegro, e mais do que isso, me Admiro que toda a segunda-feira a gente continue enfrentando todas as necessidades e urgências da vida, continue resistindo e indo...
indo, se encontrando e se abrindo para o encontro. mesmo sem obrigação, mesmo sem cobrança, mesmo sem verba, sem bolsa, sem garantia.
mesmo que às vezes alguém não venha, alguém adoeça, alguém não consiga chegar, alguém tenha uma banca, um congresso, um trabalho, um filho doente, existe um nós que sempre "periga" não estar lá, mas que sempre chega. é a junção desse nós que garante que esse mesmo nós continue a existir. E isso é Admirável, e mais do que isso, Espantoso.
Então, toda segunda-feira estamos lá!
Conversamos sobre coisas. projetos, fatos, autores... e saímos para a rua sem rota previamente estabelecida. sem nenhuma ação previamente combinada. nos une a experiência coletiva de uma atenção cartográfica à espreita de um encontro. (o que a ruth chama de atenção felina) em busca de alguma coisas que nos olhem. permitindo uma porosidade na atenção, na escuta e na presença. chamando por uma dança que esteja emaranhada na nossa caminhada, nas nossas lentes de contato, na sola do sapato que toca nosso pé no chão. percebo que não distinguo mais roupa de dança e roupa de vida. me Surpreendo, e mais do que isso, me Delicio.

Aos poucos, com a persistência da nossa presença, com a continuidade do nosso nós toda a segunda-feira, começamos a criar cúmplices... o francisco da casa porto,

 a dona maria da casa 8, os meninos da "boca", a escola, a igreja, as flores do jardim, o gato preto, as pedras da rua do escorrega, o olho d'água que brota no meio do concreto, a escadaria que não aparece no mapa, a dona da casa que cuida das flores, o adro, o mezanino, a sombra da árvore, os espaços de nada. tudo gente- tudo coisa.
 
 
 


 

vou mapeando esses encontros com meu celular na mão, capturando imagens que são uma tentativa de atualizar a experiência de olhar pra algo que me toca. me Entusiasmo, e mais do que isso, sinto Vertigem quando me encontro com esses pequenos detalhes que me vibram a presença.

 todas as camadas de tempo e vida grudadas nas paredes, nas portas, nas janelas.

o que fazer com isso? volta e meia caímos na demanda de ter que fazer algo que conste no hall de tarefas previamente estabelecidas. estamos criando a tarefa de nos juntar para fazer nada, forçar o espaço do nada, ocupar-nos do nada, violar a ordem produtivista, violentar a urgência de ser especialista em coisas, de estar no circuito instituído e reconhecido... estamos criando um circuito por dia. chupar sacolé, conhecer o observatório, deitar na rua, entregar uma flor, criar correspondências, escrever, fotografar, andar com sapato de dança, desenhar, conversar, olhar, visitar, imaginar. gestos para nada, obrigada Deligny!









Me Assombro, e mais do que isso, me Maravilho com nós todas as segundas-feiras no morro.




Lidia

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