9 de maio: Segunda com os estudantes da OcupaAmaro, com a força e o silêncio que nasce do barulho… (reportagem: https://www.youtube.com/watch?v=pLJS4wKgU-I&sns=fb&app=desktop )


Chegamos na Escola Amaro Cavalcanti, ocupada há quase um mês…
Chegamos com os nossos materiais de trabalho: baldes, panos de chão, produtos de limpeza, tecido, ideias, atenção aberta, disponibilidade para o encontro, escuta atenta.


Primeiro fomos levadas para uma "expedição cartográfica" pelo prédio. Encontro com as camadas do espaço. Salas, banheiros, quadras, cozinha, dormitório. Sacada (forte), ponto estratégico de melhor visualização da rua.



Muitos e  muitos livros intactos, que os estudantes nunca tinham tido contato, nem sabiam que existiam. Assim como muitos e muitos quilos de carne estragadas no congelador, só descobertas na ocasião da ocupação. Achamos livros de Artes, achamos Lygia Clark e Hélio Oiticica na página 94. Carregamos esses livros conosco, para utilizá-los na nossa atividade. Não que acreditemos na pedagogia da cartilha, mas confiamos que os livros tem o poder de ativar a curiosidade e de abrir mundos.

















A movimentação é intensa. Professores da própria escola, jornalistas, pesquisadores, pessoas apoiando com doações, fluxo de estudantes. Número infinitamente menor do que as 2 mil pessoas que circulavam na escola diariamente antes da greve e da ocupação, mas essas que ali estão e permanecem não só circulam… elas cuidam, gerenciam, persistem, insistem, constroem dia-a-dia, minuto a minuto aquele espaço e todas as suas relações. De cara observamos que não há um líder, não tem ninguém dizendo à todos o que fazer. Pelo menos nessa escala convival da ocupação... (certamente existem lideranças e hierarquias no movimento como um todo) Cada um cuida de algumas coisas, eles vão se revezando em tarefas e isso é muito marcante.


Iniciamos a nossa proposta de limpeza coletiva do espaço no hall de entrada da escola: Convidamos todo mundo… Alguns chegam, outros desconfiam, as câmeras se voltam pra nós. Molhar, torcer, conectar pés, bacia, costas, braços, cabeça… tudo meio estranho, tudo meio familiar.
 

  Eles embarcam, nós também. Sentimos todos o peso e a insistência dessa ação. Alguns encontram o silêncio que permite se conectar, outros estão dispersos e incomodados. Não tem jeito certo de fazer, tem que descobrir fazendo…


Estendemos, então, o tecido de voile no chão para iniciarmos uma adaptação de “a viagem” de Lygia Clark. Quem quiser deita… um de cada vez. Só quem quiser. Atenção para escutar outras coisas que não as próprias palavras. Eles se interessam, escutar o quê? Dar espaço para a escuta do silêncio que é cheio de rua, gaita escocesa, conversa, carro, respiração... É difícil o silêncio em um momento em que se precisa gritar tanto!!!! Falar muito e repetir inúmeras vezes... Mas ele se faz. E depois de o primeiro estudante ser envolvido pelo pano, carregado coletivamente pelo hall e pousar embaixo da escada, trama-se uma rede entre nós e eles. JUNTOS. Começa nesse momento o que achamos que pode ser mais relevante nesse encontro... que é o próprio encontro... (E não em si a realização da atividade proposta, porque não há nada que possamos ensinar fora do encontro. Não há conteúdo mais importante do que a vida)...

As palavras, as percepções, imagens, reflexões encharcadas da vida, do corpo que ocupa, que permanece, que insiste e que resiste.  
-Parece um morto.
-Pode-se velar alguém sem estar morto? o cuidado com o corpo do outro. A morte como assunto, o que estamos matando de um sistema escolar falido para fazer nascer uma nova escola. As pequenas mortes que devem acontecer para o novo poder nascer… 
-Como é o nome disso? Dança? Vamos criar um nome pra isso... 
-Corpo velado! 
-Como reativar esse estado de escuta no nosso dia-a-dia, como podemos nos escutar melhor?
-Parece que eu deveria acordar assim toda manhã, mas nós já acordamos estressados, com panelaço...
-O que podemos fazer com isso? Um texto... Um caderno... Vamos criar o nosso livro de ocorrências...


Muitas questões iam surgindo cada vez que uma pessoa fazia a experiência, e a cada vez era um novo espaço de atenção e escuta.
Percorremos alguns espaços da escola e encerramos o trabalho no refeitório. Lugar que nos parece crucial para a manutenção da ocupação e das relações. O lugar da comida. Que aliás está sendo mantida com doações...

Segunda que vem vamos estar com eles de novo.


Obrigada Amaro Cavalcanti.
Viva Ruth, Laura, Bruna, Thaís, Bia, Astrid, Belo, Léo, Victor, MiFuracão, Marina, Laura, Duda, Negão, Samara, Gabriel, Poliana, Iago e todos os que estão insistindo e persistindo na construção desse novo corpo, dessa nova escola, desse novo país.

Esse texto está em construção, estamos mexendo e convidando pessoas para escrever junto.

Sobre as ocupações secundaristas no Brasil sugerimos:
http://vaidape.com.br/blog/2016/05/nois-ja-ta-fervendo-o-tsunami-secundarista-que-se-espalha-pelo-brasil/   

Texto do filósofo Peter Pál Pelbart
http://outraspalavras.net/brasil/pelbart-tudo-o-que-muda-com-os-secundaristas/

Comentários

Postagens mais visitadas