Carta pra Paola

A tua partilha no Encontro sobre transarquivo com o Núcleo e a tua leitura-escrita auto-biográfica e afetiva do Texto Pés no Chão (1) me fizeram escorrer essas palavras...

sobre escrever, escrever em todos os lugares.
sobre escrever também fora das condições ideais de temperatura e pressão, fora da biblioteca e do escritório. Na cozinha, enquanto se prepara um prato, na cama, enquanto se sonha.

sobre dançar, dançar em todos os lugares. não só no teatro, nem só na sala de aula, nem só de frente para o espelho, nem só ao som do piano, nem só com roupa de dança. muito menos só para um público selecionado. sobre dançar em qualquer lugar e para qualquer um: coisa, objeto, gente, pra si também. no meio da rua, no Olho da Rua (2), numa conversa, num texto, num olhar.

tua escrita me alerta sobre aprisionamento em sapatos, sobre os solos alisados que emudecem e soterram as histórias e os acidentes do caminho, e assim enfraquecem os nosso pés, a base, a firmeza, o nosso chão. O chão de cada uma de nós.
Aliás, os alisamentos... os clareamentos... Práticas muito conhecidas de homogenização da nossa Terra, mas não só dela. O corpo adoece quando falta encontro com o chão, quando falta encontro.

Hoje levei a Anita, minha pequena que tu conheceu na manifestação das mulheresContraCunha, pra ver uma dança no teatro, um trabalho de uma querida colega artista da dança, mas nós não pudemos entrar. Não, não era escuro ou parado. Não, não tinha nada impróprio para a idade dela.... Argumentei que eu sairia rapidamente caso ela se cansasse. Mas fomos barradas porque ela tem 2 anos e iria atrapalhar a dança...
Nós é que desistimos de dar uma hora do nosso dia para essa dança e fomos para a praça brincar.
É que essa dança não se faz em todo canto... ela não é como a tua escrita.
Ela tá separada da vida. Talvez se pense mais importante... E eu não gasto mais nosso tempo com isso.

Obrigada por ter nos incluído na tua arte/vida e ter vindo dançar/escrever afetivamente a nossa segunda-feira. O transarquivo nos banhou...

Com amor
Lidia

Obs.: Aqui vai o texto de Paola Marugán: Pés no Chão http://www.tea-tron.com/paolamarugan/blog/2016/05/01/pes-no-chao/

Obs2.: No dia 30 de abril aconteceu a Mostra de Performance ESFORÇOS #1 na qual eu partilhei um trabalho artístico chamado Brinquedos para esquecer. Olho da Rua é o nome do espaço cultural/bar onde a Mostra aconteceu. Paola obrigada pela tua presença lá!
Brinquedos para Esquecer de Lidia Larangeira                foto de Sérgio Andrade

  

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