descansar a cabeça na terra

Participação na roda de conversa "Caminhos da Extensão"  na VII Feira Poética do Laboratório de Arte e Educação da UFRJ.

O convite para participar de uma conversa sobre extensão universitária na Feira Poética nos ajudou a pensar o que é extensão e que processo de extensão da Universidade gostaríamos de fomentar.

Como produzir encontro entre os saberes? Que tipo de experiência se concretiza como uma troca, um encontro?

Parece-nos urgente pensar a produção artística como extensão. As manifestações e práticas avindas da dança, que é uma área de conhecimento recente na Universidade, emergem de experiências sociais e coletivas e estão longe de serem produzidas exclusivamente em sala de aula.

Nossa formação como pesquisadoras da dança acontece de forma continuada a partir de experiências múltiplas, sempre relacionadas ao encontro com o outro: o público, os estudantes, os professores, as obras, as manifestações, os textos, a casa, a rua  a cidade, etc.

Entendemos a extensão como de continuidade de um processo de aprendizagem e troca. Acreditamos na extensão como prática intensiva, como campo de trocas intensivas, de contágio e composições potentes. Assim algumas perguntas nos guiam.

O que estamos chamando de aula?

Que dança se pode ensinar?

Como criar práticas de estar junto, práticas de criação coletiva, de encontros criativos, de discussões e partilhas de experiências como extensão universitária?

Como mensurar o grau de modificação de uma ação dentro de um campo subjetivo?

De que forma uma pesquisa que propõe ações pode ser pensada como ação-com o campo e não como intervenção no campo ?

Como pode a prática de estar-com escapar da lógica paternalista-colonizadora de uma dada extensão universitária que se pensa capazes de intervir e modificar uma dada realidade com o seu conhecimento? 

Como produzir uma ação extensionista com menos intensão e vontade de intervenção e mais intensividade e criação de um comum, de possibilidades de partilha? 

Preferimos estar-com, agir-com, pensar-com, dar-recebendo e receber-dando. Um convite a sair de nós mesmos. Uma extensão ao universo de outrem.

Estamos todas as segundas-feiras no Morro da Conceição agindo-com, estando-com o vento, a Dona Maria, os meninos da escola, os namorados do banco da praça,os amantes do beco, a flor  que se-nos presenteia quando cai, os meninos do tráfico, São Jorge, a cama, as fendas, as flores, os gatos e seus cocôs. Essa é nossa extensão-intensiva. O morro é campo intensivo que se es(x)tende para fora dos muros da Universidade e de cada um de nós.

  

 lidiaeruth

 OBS.: Toda a atuação docente universitária é pautada em um tripé de ensino, pesquisa e extensão. Historicamente a pesquisa sempre foi a "menina dos olhos" dos órgãos de fomento e de apoio. Era onde a Universidade adquiria "valores mercadológicos" e a instância a qual as políticas de fomento mais destinavam verba... estimulando a "produção acadêmica". Atualmente existe uma reforma curricular em plena implementação que segue a Política Nacional de Extensão e inclui nos currículos dos cursos uma carga-horária de atividades de extensão. Portanto, atividades de extensão estão no foco das (precárias) políticas de fomento do governo no âmbito universitário. O Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras redige as suas diretrizes. Ver http://www.pr5.ufrj.br/index.php?option=com_content&view=article&id=74&Itemid=152

Diretrizes para a Extensão Universitária

1.     Interação dialógica 2.     Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade 3.     Indissociabilidade ensino – pesquisa – extensão 4.     Impacto na formação do estudante 5.     Impacto na transformação social

A partir disso nos perguntamos:
O que caracteriza ou não um projeto de extensão? Quais os modelos de projeto são considerados extensão? Como está sendo distribuída essa verba entre os projetos de extensão? Quais projetos são considerados ou não ações de extensão?  Quem avaliza o que é uma extensão universitária? A resposta para a última pergunta é: Nós mesmos, professores universitários... Será que este não é um bom momento para reavaliarmos nossas atuações na universidade?