escrevendo em ressonância com a cidade

Em 16 de junho de 2016


De todos os balões que engravidam de ar e se sopram em palavras, em qual pôr de carinho um alfinete pra que o assunto se entorne mundo?

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Começar por onde que esquina começar? . . .

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É que quando tudo suplica para ser graficamente tecido, as máquinas que desejam já trabalham há tanto e um bocado que estão a ponto de não poder sequer dormir e escrever se faz enquanto se anda também, mas mesmo assim abre-se a toca nessa hora em que, caso as letras não se desenhem, as máquinas hão de gastar energia na destruição delas mesmas. Pra ti: faz algum sentido essas coisas que vos digo? Porque é sempre com alguém, que temos falado. Sendo que a única questão realmente gostosa é saber se as coisas estão passando .  .  . As coisas essas que são ditas soletradas enquanto outras coisas vão-se-produzindo excitam o nosso encontro? .  .  . Isso, por exemplo .  .  . Essa necessidade de ampliar os espaços entre um ponto e outro, te parece o que? . . .

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Começar por onde que esquina começar:

É que quando tudo suplica para ser graficamente tecido, as máquinas que desejam já trabalham há tanto e há tão bocado que estão a ponto de não poder sequer dormir. É que escrever se faz enquanto se anda também, mas mesmo assim é preciso abrir espaço na caixa torácica nessa hora em que as letras estão a ponto de pôr as máquinas em colapso, gastando energia na destruição delas mesmas. Assim:

Pra ti: faz algum sentido essas coisas que vos digo? Porque é sempre com alguém, que tenho falado. Sendo que a única questão realmente gostosa é saber se as coisas estão passando .  .  . As coisas essas que são ditas soletradas enquanto outras coisas vão-se-produzindo excitam o nosso encontro? .  .  . Isso, por exemplo .  .  .
                          essa necessidade de ampliar os espaços entre um ponto e outro, te parece o que?
                                                                                                                                                         .
                                                                                                                                                         .
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o que seja, re-pare
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                            . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No dia dez de junho, que era também sexta feira, lidia e bruna e laura estiveram em uma praça no bairro das Laranjeiras/RJ praticando escrever em ressonância com a cidade. A ação se anunciou desde Lisboa/PT rabiscando os mapas da amériqu'europa nuns sentidos que a memória objetiva não vai poder aqui nos dar as mãos. thaís esteve escrevendo com nosotr_s, mas em um canto diferente da Guanabara e ruth esteve com os buracos escutando em proximidadedistância.

Isso para começar pelos nomes que sabemos instituidamente; para começar pelas palavras-nomes que apontam contornos de ossos que nossa lente visual já visitou,

porque nesta escrita transoceânica estávamos ombro-a-ombro com outros que conheço como corpos'escritas: uma rede de nomes próprios e textos em folha digital que se forma de agrupadinhos de letras e cadências vocabulares [dois pontos] pessoas que conheço por uma troca de mensagens virtuais que recheia nossas caixas de e-mail de danças cidades levantes convites ocupações . . . . .  . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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    . . . mariana . gabriel . sofia . valentina . margarida . julia . bernardo . arminda . mariana . luísa .
gabriel . álvaro. kadri . erika . graça...

                                                e ainda com certeza                     . mais'outros . vezes'outros .      . tratatatatatat'outros .


(é que é bom contar com os virtuais duns corpos que,
se não sabiam no que estávamos engajados naquela manhã transcontinental,
a manhã sabia bem que lambia seus silêncios)

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Em Laranjeiras nós partilhamos uma cartolina branca que, pousada num tapete colorido, esteve chão para as nossas canetas. Teve receita de chá pra dor de garganta; notícia de indisposição perceptiva à presença das forças militares; descrição de reconhecimento do espaço-aquele-da-praça; carimbo de identidade-janela; escorrimento interessado em roçar a palavra em outra superfície que não o papel; grafia colorida que anunciava a arquitetura; granola; urgência e catarro.

Três garotas sentadas no chão de uma praça bem grande e cheia de serviços prestados à comunidade: pequena arena, brinquedos, aparelhos de ginástica, bancos, mesas de pedra . . . Três garotas sentadas no chão de uma praça que é tridimensionalmente cercada por vias urbanas das mais movimentadas e arruaceiras. E nossa... c o m o os ca rros gritam…

É o tempo da gente na praça que lagoa aquela veloz e indizível percepç-ão de confus-ão com a civilizaç-ão: pra onde estão indo vocês nessa sangria desatada que aponta pra mesma direção que só pode mesmo ser a mesma porque pra passar com a rua dentro desse amontoado automobilístico só indo por ali.

Os carros estranham as formigas assim como as formigas estranham os carros.
Mas olha, estamos todos enfiados uns nas tramas dos outros.


Ai. Ufa. Hum . . .

A escrita contaminando'contaminada pela correria do supermercado em dia de promoção. Suspendemos na ponta das canetas toneladas de miúdos operários do mundo dos relógios e expiramos fundo , acomodamos os olhos , encostamos as palmas das mãos neste outro espaço que é também este espaço, mas que aparece como que soterrado, como que atento no seu tempo de ser outro tempo ; por baixo por cima pelos lados todos através dos movimentos febris da cidade estendemos linhas de letras como quem arma um varal de fio , uma mão em cada ponta. Uma de nós caminha para pregar uma extremidade do fio n'algum suporte, a outra vai em busca de pregadores que façam alguma ordem na festa das letras, enquanto a terceira - com a outra ponta do fio na mão - amarra ele num laço preso o suficiente para estar solto como o vento quiser. Um peixe salta da cartolina-chão e vai bem nadando pelo espaço úmido da praça até que encontra mar numa das paredes: as letras na parede tem também forma de rosto de bicho de declaração de amor de marca de gente de passagem , as letras nas paredes da cidade tem também tem também tem também

O Tempo é acolhedor de gestos de diferentes velocidades e não sei a quem serve a frase que diz ao Tempo o que ele é quando fala em seu nome para coloca-lo a preço alto no mercado. E vagar por dentro das manhãs de sexta feira em uma cidade como o Rio é resistir. Não : Insistir.

Posso pensar porque escolhi a segunda palavra [insistir] depois de ter lembrado da primeira [resistir] ...

Resistir parece dizer sobre fazer força para que alguma coisa não passe; fazer força para enfrentar alguma coisa: uma doença, uma ordem, uma lei, um gesto de violência . . . E sim, a gente resisti.  

Insistir parece ter a ver com fazer de novo . E de novo . E de novo. Contando com aquela condição do "de novo" ser sempre outro . E out ro . E o utro . Insistir parece que tem a ver com acreditar e fazer vigorar e ecoar e retomar sempre que preciso para tornar possível alguma existência.

b o m . . .

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Escorrida uma hora de escrita na praça, nosso tempo citadino de vagar foi conduzindo maior velocidade aos nossos rabos que foram-se abanando em despedida às canetas, aos cãezinhos que foram aparecendo na praça, às palavras das paredes . . .

bruna foi sumindo com o por baixo do viaduto e lidia sobre a bicicleta aponta para o lado oposto que laura vai calçar logo que termina sua despedida à praça.


p a a s s a m o s

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