Sobre chegar e continuar

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2017.
Foram nossos primeiros encontros e ainda tenho a sensação de chegada. E não é sobre pisar num chão desconhecido, mas sobre pisar num chão que ainda está se formando ao passo que vamos aos poucos fazendo com que nossos desejos se encontrem e revelem a direção.
Sabe, talvez tenha a ver com pegar o jeito de se lidar com a autonomia, saber fazer mover o próprio desejo, e aqui, mais que isso, fazer o teu desejo se conectar com os desejos dos outros e então desse encontro construir o chão que pisamos. Deve ter mesmo a ver com tempo essa coisa de construir um corpo coletivo. Acho também que tem a ver com estar com os fios soltos, estar com umas duvidas boiando, estar com uns buracos , estar disposto a se contaminar. E duração é um assunto que sempre me aparece, tenho muitas demoras e ando fazendo o exercício de abrir espaço pra que elas existam sem que eu me perca de outros ritmos que me interessam. Parece que temos espaço pra isso por aqui.
Fechamos os olhos. Partimos para pequenas experiências de ativação do corpo. Tenho a sensação de que quanto mais me percebo, mais sou capaz de perceber o outro e o espaço. Quanto mais me conecto comigo, mais generoso e aberto ao encontro com o espaço me torno.
Abrimos os olhos. Demos lugar à uma pequena deriva. Sinto meu olhar deslizar pelo espaço. Assim mesmo com essa qualidade de   d  e  s  l  i  z  a  r. . .. ....
de       e    s      p    a           r               r                  a                          m                    a                 r
o olhar como se ele fosse se ramificando cada vez mais no espaço. Me interessa essa sensação de olhar deslizante, percebo bem quando ela vem e quando vai também.
Agora encontramos o papel e a possibilidade de traçar essas sensações e impressões. Marcar o papel de modo a fazer ver sutilezas. Ou não, só um exercício de começar a treinar esses mecanismos de encontrar com o espaço, ver isso chegar no corpo e inventar uma maneira de comunicar essa experiência.





escrita camuflada, olho, ameba, setas pra lá e pra cá, olho, pássaro, sapo, folhas, corneta, grito... nada disso. não o símbolo, mas o movimento do traçado. a lógica que desencadeia um traço que gera movimento e outro traço. as estratégias que criamos e que dão a ver nossa dança.
deve ser por isso que podemos dançar na escrita, no desenho, na fala... é sobre mostrar o caminho do movimento. não é criar! é revelar o que acontece. só.
coisa pra caramba!




Sempre me parece que pra começar um encontro, assim como para se começar uma dança a dois, é preciso uma certa dose de desapego… largar, abrir mão. Mas não só largar, também precisa agarrar. Largar e agarrar, agarralargar. Deixar o que é certeza é certeiro para navegar águas e surfar ondas.
Levar consigo o que é material de trabalho: o movimento, as cores, os papéis, a voz, a escuta, a escrita, a câmera, o gravador… e deixar de lado os protocolos de criação, as normas de etiqueta e conduta, as crenças e as verdades.
carto2017.jpg
Abrir um espaço pro silêncio poder.
Silenciar o que é expectativa.
Esticar a linha pra não deixar afrouxar.
Experimentar o que lá está.
Cair em buracos.
Dar ouvidos à intuição.
Confiar nos o quês e tatear os comos.
Ativar o olho geográfico, aquele que enxerga por detrás do julgamento.
Comprometer-se com o que faz o corpo vibrar.
Ser honesto com o processo.
E insistir!

Insistir e continuar…
Exercício de compor com. Aí a gente lembra de André Lepecki, Planos de Composição. E ele vem chegando.


Raquel, Romulo, Lidia

Comentários

Postagens mais visitadas