Clarice, Magnólia, agarrar-largar e os paradoxos - ou alguns parágrafos soltos, mas nem tanto



me aconteceu um encontro com clarice essa manhã. escrita água-viva. me espanta sempre a habilidade absurda de palavra-acontecimento da grafia dela, o gesto de encontrar as palavras, a precisão rasgante de ser recipiente e emanadora de palavras… !!!


me ponho em exercício, em ressonância com clarice derramo algumas palavras no papel com o rosto repousando nas mãos sobre o caderno, numa continuidade com a diagonal que escrevo… percebo que escrever em ressonância tem um quê de receber e emitir.. agora sonolenta, quero ceder ao sono, quero voltar pra clarice. mãos e pés transpiram. é um risco essa coisa de encontrar as palavras pra cada instante, de se colocar de cara com a experiência que ainda não tem palavra. e isso é fascinante e assustador, um risco que precisa de um tanto de coragem e serenidade.

o sol já percorreu o espaço da minha janela e agora está baixando atrás do morro. escrever desse jeito pode levar tempo… uma tarde minha, algumas páginas de muitos dias de clarice. ela me trouxe muitos dias nessas poucas páginas e agora me anuncia mais uma madrugada por sua cortina quebrada que deixa passar a luz da lua. aqui, ainda o sol, brando cedendo ao chão. “se tudo isso existe, então eu sou.” ela me diz, e continua “mas por que esse mal estar? [...] meu cântico é profundo. devagar. mas crescendo. está crescendo mais ainda. se crescer muito vira lua cheia e silêncio, e fantasmagórico chão lunar." existe escrita pra exprimir silêncio? ou silêncio ao se exprimir já virou coisa? e dança?

já é noite. abandonei algumas palavras que queriam se precipitar. o barulho dos grilos está mais próximo do que as buzinas e o megafone da kombi que vende ovos. acho que do contrário o exercício do instante me escaparia muito mais. agora estou desperta, mas meus pés e mãos ainda transpiram. o que é preciso pra entregar-se ao instante?
clarice agarra-larga as palavras.

sobre pés e mãos que transpiram, descubro chá de magnólia, bom pra ansiedade, mas o mais curioso é que ela tem propriedades sedativa e tônica, desta forma ao mesmo tempo que relaxa o organismo, também o revigora. magnólia sabe agarrar-largar.


raquel.

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