cartografias do corpo - Thaina Farias
pisei no mesmo lugar, me
questionando se era o mesmo lugar. acontece isso com lugares grandes, isso da
gente se perguntar se é mesmo o mesmo lugar mesmo sabendo que é o mesmo. que
ideia de totalidade maluca que eu percebi agora… sabe o que me lembra? o mapa-mundi!
é uma imensidão do mundo de frente de um ser que só sabe apontar - esse ser que
somos todos nós, seres que apontam. se deslocar esse apontamento do ponto,
acontece o que aconteceu quando eu saí para a rua durante a oficina:
o papel era a superfície do
ponto, que eu pontuava com a caneta e anotava uma palavrinha pra identificar,
porque minha memória é sensitiva mesmo, nem sempre se atém a detalhes visuais
ou práticos e eu me perco na busca de algum lugar. sim, estou comentando o que
acontece com frequência, eu sempre me perco. os amigos dizem quando peço ajuda
“olha o mapa!” e eu me sinto mais confusa que antes. claro que existe a
sensação prazerosa da deriva, mas o tempo nunca me deixava só caminhar.
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21:17
meu tempo daquele dia foi o de me
colocar atenta a minha própria proposta, que foi: papel, caneta, uma calçada na
ida e a outra na volta, sinalizar lugares que meu olho identificou referência e
o pensamento presente de ter de entregar esse mapa a alguém ou simplesmente
mostrar, para que esse trajeto fosse feito em outra camada. quantas camadas de
pontos, traços e referências existiam naquele lugar? se o ponto que propus com
a caneta pudesse ser uma britadeira ou uma agulha, quantas camadas eu iria
perfurar?
a cidade tem camadas, as camadas
são peles e os feitos e efeitos ora de concreto, ora de água, ora de combustão,
ora de vísceras, ora de projeção, são os que mapeamos.
Thaina Farias
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