Cartografia 28 de fevereiro de 2018: conexão intergaláctica Rio-Liboa.
Entro no metrô rumo à Cinelândia.
Encontrar o Núcleo para a conexão intergaláctica.
Percorro a cidade por
suas entranhas.
Estranho pensar que atravesso um túnel debaixo da terra e não
vejo a paisagem da cidade. Causa às vezes sufocamento, outras maravilhamento
como se entrássemos num túnel do tempo que diminui distâncias no espaço. Saio
de um ponto, deixo a pele marcada por tantas histórias, e no outro ponto estou
lá desejosa de outros encontros.
Ao sair do metrô, meu olho se ativa, como um farol na busca
pelo Núcleo. De repente, um empuxo. Meu olho sendo puxado pelos olhos de pele
delas. Puxada pelos olhos, sigo até elas que estão sentadas num banco da praça.
Abraços longos e quentes de saudade. Um respiro profundo que não desfaz a
conexão.
Sento no chão da praça. Entrego o meu corpo para a cidade às
12:30 da tarde.
Sentar na praça à sombra. O teto é o céu. A família é
toda a gente que passa e que para. Agora estamos juntas. O silêncio abre espaço
para ouvir o som da cidade: os amigos, o metrô, o vlt, pessoas que passam
deixando no vento rastro de suas palavras.
Muito afeto circula com o vento pela cidade. A gente é
que não vê, mas o vento espalha: vento de encontro entre diferenças
O outro me atravessa, me extravasa, o outro me abre.
Somos camadas do espaço.
Somos pele de ar
Sinto meu corpo entregue e a escrita corre solta e líquida
pelo papel.
Estou a grafar minha palavra no chão da
cidade.
A escrita grafa fragmentos dando forma
ao que passaria como rajada ventos e sensações
A palavras às vezes vazam do papel e encontram o chão da
cidade e grafam com vermelho sangue e pele-chão da Cinelândia.
Recebo do chão da cidade suas camadas-fuligens, suas
camadas-vozes, suas camadas-ruídos, camadas-espaço.
Estamos muito juntas, com-centradas e abertas ao espaço
poroso daquela tarde de vento e sol.
Abrir espaço para ser no/com o espaço.
Rasgar o tempo chronos, do fazer e encontrar o tempo para ser: acontecer
Sinto Laura, sinto o vento nos levando além mar até lá a
tocar sua pele e conversar com seus poros.
Laura lá,
nós cá
estando
gestando
sendo em conexão no tempo
traçando
e trançando linhas de continuação no espaço além
além céu
além
mar
além ar
O corpo com-põe. O corpo cria espaço quando ocupa o
espaço. Somos cria do espaço, cria da cidade, cidade que é corpo de mulher.
Corpos de mulheres que fazem continuação com o corpo do
mundo.
Estar atento, sem intento, sem tensão e com tesão
Estar em mim=estadocomosoutros=repouso=pouso para ser
Chão, Céu, Caos, Cosmos.
Tem resquícios-pedaços do carnaval na árvore: fruto
artificial que brotou do amor da cidade com a folia
Ruth Torralba
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