Cartografia de além-mar



A subida pelas ruas de pedras é suave, o corpo está descansado e não sente esforço. Vou sendo guiada pela curiosidade, farejo pistas sobre a existência humana, e parece que não há olhos suficientes para ver e sentir tudo. Os pés começam a reduzir o passo para que não escapem as miudezas. O estado de relaxamento ou uma estranha familiaridade me faz por vezes esquecer que estou em Portugal. Logo de início me impressiona e assusta a quantidade de turistas, o fluxo intenso de pessoas de fora do lugar, e que transformam o lugar. Sim, pessoas sempre transformam os lugares onde estão, mas.. estou convencida de que precisa haver um limite para isso. Fica difícil perceber o que é o que foi o que está sendo, de fato, neste lugar. Sigo em busca de rastros sobre a(s) vida(s) da cidade.

O fado (lindo) de Ana Moura toca nos bares, nas lojas, nos restaurantes e começa a me gerar um incômodo.. por saturação.


Alguns cantos, becos e ruelas ainda conseguem se esconder. Escapar. Preservar. Me demoro neles. Eis que vejo no mural externo do centro comunitário um aviso, um edital: candidatura a 100 casas no centro histórico, para famílias que tenham sido despejadas de suas habitações ou que comprovem estar correndo esse risco. Preciso ir, precisamos seguir o dia, ainda assim mantenho a marcha lenta, os passos espalhados no tempo, acho que em busca de mais algum alento, acho que em vão. Os muros, os recados colados, os chãos e os adesivos continuam sussurrando para mim pequenos segredos comuns enquanto desço para seguir viagem.














Alfama, Lisboa, 5 de abril de 2018.


Tamara

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